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EU TENHO MEDO DO ESCURO

"Não me deixe só. Eu tenho medo do escuro. Eu tenho medo do inseguro. Dos fantasmas da minha voz"
[Vanessa da Mata - Não me deixe só]






.::.Aí eu fechei os olhos e esperei a dor vir devagar... esperei ela consumir o meu corpo porque, com o corpo amortecido, a felicidade que viria depois seria aproveitada desde o começo e a cada polegada.O escuro ia ser atravessado pela claridade da felicidade possível e eu ia sentir a emoção latejar dentro de mim e corromper os meus medos tornando-os em sentimentos mais reais do que os de aflição.



Aí eu abri os olhos, e você continuava perto de mim, você continuava em cima de mim, do meu lado, ao meu redor... você pedia silêncio e eu prendia a respiração com medo de respirar muito você e não querer outro cheiro no mundo. Eu lutei feito menino de rua por comida, bloqueei todas as minhas emoções pra não virar dependente do gostar de você, travei meu coração com cadeado de ferro e esperei que ele enferrujasse sem que você tocasse nele.



Aí você foi delicado, e foi encantador, e foi tudo aquilo que eu queria que você não fosse porque eu não tinha nos meus planos me apaixonar por você. Você foi meu amigo pra depois eu não poder dizer que não confiava em você; você foi meu confidente pra no momento que eu resolvesse mentir que não sentia nada eu me lembrar que pra você a mentirinha repetida não resolveria...



Aí eu pensei em correr pra longe e espantar de perto de mim qualquer vontade besta que eu tivesse de ficar com você pra sempre; só que você foi muito mais rápido e me mostrou que eu fui muito mais besta tentando fingir não querer estar ali do que admitindo de uma vez que eu já estava ali fazia tempo. E eu fiquei chorosa e contente, do jeito que só eu sei fazer, fazendo drama demais pra estampar uma felicidade displicente.



Aí eu me joguei de cabeça, porque na minha vida nunca houve meio termo, nunca houve o morno, o ponto médio, o mais ou menos. Eu fui logo de uma vez correndo o risco de quebrar o pescoço na queda, de perder o fôlego no mergulho, de quebrar minha asa no salto. Eu fui de uma vez porque eu sabia que o meu dicernimento psicopata me mandaria assassinar o meu super ego e chutar com força minhas chances de borboletas no estômago e final feliz. Eu fui correndo e nem olhei pra trás pra não me lembrar das vezes que eu chorei e não acabar dizendo pra mim mesma, no meu monólogo interminável, que eu podia me dar mal.



Aí eu estou aqui, agora. Curvada na minha vaidade esperando o momento da queda, esperando que a queda não venha, esperando que as teses todas falhem e eu possa me sentir menos falha pra gostar de você. Eu me dobro na sua frente e fico quietinha vendo o egoísmo na altura do meu umbigo, e a desenvoltura que você tem em me deixar pequenininha perto do seu eterno altruísmo.



Aí eu fiquei calada e pedi pra você me abraçar forte, deitar do meu lado e nunca apagar a luz... afinal de contas, eu ainda tenho medo do escuro.

[Rani G.]

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